por Marcelo Melgares
“O ocaso de nossa vida fugaz é o despontar da aurora
eterna.” - K. Rahner
Num site voltado preferencialmente para o público jovem,
como é o “Mundo Alegrai-vos”, talvez possa causar estranheza a alguns a
referência da passagem de Zélia Caetano Braun, a comunicadora mais popular da
Rádio Aliança 106.3 FM de Porto Alegre (RS).
Professora, tradicionalista, nascida na região das
Missões, irmã do pajador Jaime Caetano Braun, Zélia contagiou a todos com a sua
alegria e jovialidade, inspirando pessoas de todas as idades. A Beleza nos
aproxima de Deus, porque toda a beleza nos vem da Trindade, e neste quesito
Zélia era uma pessoa imensamente bela. Mulher religiosa, fiel devota mariana e
incansável militante da devoção da oração do Rosário, uma das idealizadoras do
Festival Chimarreando com Deus.
Hoje estamos de luto. O luto é uma das formas de
tristeza, a que ocorre pelo falecimento de uma pessoa querida. Mas a tristeza
não é algo negativo em si, é parte inalienável de nossas vidas. A tristeza é,
frequentemente, a porta através da qual Deus entra em nossas vidas, seja para
nos consolar, seja para dar sentido a nossa existência. Uma tristeza saudável é
transitória. Somente quando a tristeza se torna recorrente, como na Depressão,
por exemplo, é que ela não é saudável. Para os cristãos o fato transformador da
morte é significar a passagem para a vida eterna. Isso é realmente tão
revolucionário hoje quanto o era há dois mil anos no Império Romano, quando o
cristianismo assombrou a cultura da época com a sua esperança e maneira
peculiar de enfrentar a morte. No mundo atual muitas pessoas não sabem conviver
com a tristeza ou com as suas frustrações, e esta é a origem de muitos
desajustes.
Visitei Zélia em vida uma última vez nesta segunda-feira
17/09 na UTI da emergência do Hospital São Lucas da PUC. Era por volta das 13h.
Não era hora de visita, mas os médicos tem este privilégio: o de visitar os
doentes a qualquer hora. Após conversar com a colega médica intensivista de
plantão, eu soube que o prognóstico era muito reservado. Nesse momento
lembrei-me de uma frase de origem latina, mas cuja formulação conheci pela
síntese dos antigos médicos franceses do século XV, que diz que a missão do
médico é “curar às vezes, aliviar freqüentemente e consolar sempre”. Pouco
antes de sua morte, Zélia estava inconsciente, sedada e respirava com o auxílio
de aparelhos. Não estava sofrendo, nem fisicamente, nem mentalmente. Neste
quadro de saúde, não era mais possível, para a Medicina, curá-la. Mas sou
médico, cristão, e pude rezar. Rezei um pouco, primeiro junto ao leito, e logo
a seguir na capela do hospital, no 2° andar. E apesar de não ser um devoto
mariano, rezei umas Ave Marias recomendando Zélia a Nossa Senhora.
Agradeço a Deus por ter tido o privilégio de conhecer e
ter a Zélia como amiga e inspiradora. Todos precisamos de pessoas como modelos.
Há alguns anos, num momento de tibieza de fé, ouvi-la no programa “Nova
Evangelização” fez toda a diferença em minha vida. O Cristianismo é assim:
herdamos e transmitimos, como discípulos missionários, uma Pérola de Grande
Valor.
Uma alegria nos consola: neste dia 20 de setembro, data
farroupilha, Zélia irá chimarrear com Deus face a face. Que ela nos recomende
ao Patrão Celeste, para que um dia possamos nós, também, matear nessa roda. E
como disse seu irmão Jaime Caetano Braun num poema dedicado a seu pai:
“Te foste, como outros foram
P’ra o velho Pago do Além,
Aonde um dia, também,
Eu quero bolear a perna,
E o Patrão que nos governa
Que por certo é teu amigo
Há de ser bueno comigo
Aí na Querência Eterna”.
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