sábado, 22 de setembro de 2012

ZÉLIA CAETANO BRAUN (1935-2012)



por Marcelo Melgares

“O ocaso de nossa vida fugaz é o despontar da aurora eterna.” - K. Rahner
  
Num site voltado preferencialmente para o público jovem, como é o “Mundo Alegrai-vos”, talvez possa causar estranheza a alguns a referência da passagem de Zélia Caetano Braun, a comunicadora mais popular da Rádio Aliança 106.3 FM de Porto Alegre (RS).

Professora, tradicionalista, nascida na região das Missões, irmã do pajador Jaime Caetano Braun, Zélia contagiou a todos com a sua alegria e jovialidade, inspirando pessoas de todas as idades. A Beleza nos aproxima de Deus, porque toda a beleza nos vem da Trindade, e neste quesito Zélia era uma pessoa imensamente bela. Mulher religiosa, fiel devota mariana e incansável militante da devoção da oração do Rosário, uma das idealizadoras do Festival Chimarreando com Deus.

Hoje estamos de luto. O luto é uma das formas de tristeza, a que ocorre pelo falecimento de uma pessoa querida. Mas a tristeza não é algo negativo em si, é parte inalienável de nossas vidas. A tristeza é, frequentemente, a porta através da qual Deus entra em nossas vidas, seja para nos consolar, seja para dar sentido a nossa existência. Uma tristeza saudável é transitória. Somente quando a tristeza se torna recorrente, como na Depressão, por exemplo, é que ela não é saudável. Para os cristãos o fato transformador da morte é significar a passagem para a vida eterna. Isso é realmente tão revolucionário hoje quanto o era há dois mil anos no Império Romano, quando o cristianismo assombrou a cultura da época com a sua esperança e maneira peculiar de enfrentar a morte. No mundo atual muitas pessoas não sabem conviver com a tristeza ou com as suas frustrações, e esta é a origem de muitos desajustes.

Visitei Zélia em vida uma última vez nesta segunda-feira 17/09 na UTI da emergência do Hospital São Lucas da PUC. Era por volta das 13h. Não era hora de visita, mas os médicos tem este privilégio: o de visitar os doentes a qualquer hora. Após conversar com a colega médica intensivista de plantão, eu soube que o prognóstico era muito reservado. Nesse momento lembrei-me de uma frase de origem latina, mas cuja formulação conheci pela síntese dos antigos médicos franceses do século XV, que diz que a missão do médico é “curar às vezes, aliviar freqüentemente e consolar sempre”. Pouco antes de sua morte, Zélia estava inconsciente, sedada e respirava com o auxílio de aparelhos. Não estava sofrendo, nem fisicamente, nem mentalmente. Neste quadro de saúde, não era mais possível, para a Medicina, curá-la. Mas sou médico, cristão, e pude rezar. Rezei um pouco, primeiro junto ao leito, e logo a seguir na capela do hospital, no 2° andar. E apesar de não ser um devoto mariano, rezei umas Ave Marias recomendando Zélia a Nossa Senhora.

Agradeço a Deus por ter tido o privilégio de conhecer e ter a Zélia como amiga e inspiradora. Todos precisamos de pessoas como modelos. Há alguns anos, num momento de tibieza de fé, ouvi-la no programa “Nova Evangelização” fez toda a diferença em minha vida. O Cristianismo é assim: herdamos e transmitimos, como discípulos missionários, uma Pérola de Grande Valor.

Uma alegria nos consola: neste dia 20 de setembro, data farroupilha, Zélia irá chimarrear com Deus face a face. Que ela nos recomende ao Patrão Celeste, para que um dia possamos nós, também, matear nessa roda. E como disse seu irmão Jaime Caetano Braun num poema dedicado a seu pai:

“Te foste, como outros foram
P’ra o velho Pago do Além,
Aonde um dia, também,
Eu quero bolear a perna,
E o Patrão que nos governa
Que por certo é teu amigo
Há de ser bueno comigo
Aí na Querência Eterna”.

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